21º Capitulo
A forma de um deles ganhava uma consistência quase... (Lali procurou a palavra adequada para o que via) "Vítrea?" - pensou. "Não, não! É... líquida!"
(Lali) Isso! Líquida! Parece feito de água! Água flutuante!...
Ela observou que possuía um tom menos intenso, porém, tão belo e fascinante quanto o do seu "irmão" (não foi assim que Lali tinha ouvido?)
Ainda fascinada pelas formas das figuras, concentrou sua atenção para a terceira. Essa era a que mais lhe parecia feita de poeira. Apesar de um brilho tão belo quanto o da outra, era um brilho menos acentuado. Era toda feita de pontículos luminosos de poeira colorida, mas tendo como cor predominante algo entre o vermelho e o marrom.
Essa cor lhe fazia lembrar o solo do Grand Canyon.
Depois de circular entre eles, tendo cada vez mais a certeza de que não era notada, Lali observou-os por mais algum tempo extasiada... encantada... incrédula!
Eles continuavam como se estivessem se comunicado e, inesperadamente, um deles sumiu. Simplesmente evaporou de um segundo para o outro. As outras, com formas femininas, continuaram "conversando", e por uma fração de milésimo de segundo, Lali teve a impressão de que paravam a "conversa" e uma das formas que tinha uma tonalidade que lhe lembrava a cor do barro vermelho pareceu notar que havia alguma coisa ali além delas.
Parece que, enfim, alguém percebia sua presença. Mas foi apenas uma sensação. Voltaram a conversar como se não houvessem visto ou percebido nada.
Lali estava curiosíssima sobre quem eram aquelas figuras fantásticas!
Circulou um pouco mais entre eles, na esperança de que percebessem que ela estava ali. Apesar do receio por não saber o que eram ou quem eram aquelas estranhas criaturas, Lali queria se comunicar com elas.
Se elas podiam se comunicar entre si, por que não podiam conversar com ela?
Por que nem notavam sua presença? Ela estaria numa forma tão imperceptível? O que ela teria que fazer para ser percebida?
De repente, as palavras do seu amigo Vampiro lhe apareceram em close:
Basta QUERER! E ela queria! O medo atrapalhava no início, mas agora não sentia mais medo. O ser "masculino", que era o que a deixava mais temerosa, havia partido, e sem saber explicar o porquê, Lali achava que as formas femininas não lhe fariam mal.
Ela QUERIA se comunicar com elas! Mas como?
Passeou novamente entre elas e até através delas, como fez com o gato, mas nada aconteceu. Elas não perceberam sua presença.
Parou a uma certa distância e concentrou-se bem (como fez quando quis "ver" o que seu amiguinho escondia debaixo da camiseta, quando ela era criança).
(Lali) Será que dará certo?
Lali passou a "ouvir" bem claramente o que diziam. Não eram mais palavras soltas, eram frases inteiras e falavam... dela!
Sim, estavam falando dessa "presença" que sentiam e que parecia bem mais próxima delas do que da última vez. Lali concluiu que só podiam estar se referindo a ela.
- Será que nosso irmão tinha razão? - Ouviu Lali de uma delas. - Acaso ele finalmente a encontrou?
- Ao que tudo indica, sim - respondeu a de forma líquida - Mas por que não a vemos?
- Ele avisou que a forma dela era invisível às nossas percepções.
- Seria isso mesmo possível? - Duvidou a outra.
Lali não entendia nada daquela conversa e chegou a duvidar se era a ela mesmo que se referiam.
"Encontrou?"... "Invisível?"... O que significava aquela conversa toda?
Aguçando sua concentração, voltou a prestar atenção à conversa.
Agora elas pareciam temerosas, como se olhassem em volta, buscando ver o que sabiam que não podiam ver.
Lali não acreditava na impossibilidade delas de vê-la e ouvi-la. Tentou contato:
(Lali) Hei! Vocês [gritou (ou acho que havia gritado) sem emitir som algum]
Nada. Nenhuma mudança em seus comportamentos.
Lali sentiu-se furiosa.
"O que significava aquilo tudo? Por que nunca tinha as respostas que procurava? Por que isso estava acontecendo comigo?".
A certeza que tinha, de que estava sonhando, começava a cair por terra.
Parecia-lhe tão real que ela pensou que podia esbofeteá-las, esmurrá-las ou algo semelhante, para obter alguma reação.
Fez um gesto de raiva esmurrando o vazio, mais para descarregar sua raiva do que para conseguir o seu intento.
Mas o efeito que produziu foi inesperado. Lali ficou estupefata com o seu "gesto" produziu. Era como se uma enorme golfada de ar se deslocasse na direção das formas femininas, e, passando através delas, literalmente, dividiu-se ao meio para, de imediato, voltarem às suas formas originais.
Elas pareciam estar tão surpresas quanto ela.
Sem querer, Lali as havia atacado! Não era essa a sua intenção, mas pelo menos havia conseguido um contato.
Em reposta, Llai também sentiu um ataque vindo em sua direção. Uma golfada de poeira pareceu tomar conta do seu ser, mas imediatamente se dissipou, fazendo-a sentir um pouco "dissolvida" para, logo em seguida, também voltar à sua forma original.
Tentou se concentrar para ver se finalmente elas a viam, mas recebeu uma outra golfada, que lhe atingiu em cheio, só que essa não produziu nenhum efeito maior. Foi como se tivesse feito xixi nas roupas. Sentiu-se molhada.
A combinação de poeira e líquido jogada contra ela devia ter-lhe dado uma forma que finalmente pudesse ser notada.
Mas, no mesmo instante em que teve a impressão, elas sumiram de imediato, como havia feito o ser masculino. Evaporaram como poeira.
E Lali percebeu que ela também sumia... Sumia... Sumia...
E estava novamente em sua cama, banhada de suor...
CONTINUA
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