20º Capitulo
Era óbvia aquela conclusão (definitivamente, não eram humanos...). É claro! Naquela altitude e naquelas formas que ela via, era impossível que fossem humanos!
Por um momento esquecera-se completamente do seu estado, da forma que possuía.
Naquele instante seu ser queria que as "pessoas" que via fossem humanas, na esperança de que isso a fizesse acordar para a realidade.
Por outro lado, gostaria que "eles" fosse humanos por pura vaidade: era muito bom sentir-se só, um ser absolutamente fantasioso e único, como se sentira até aquele momento.
Há poucos instantes, no momento em que se encontrava voando sobre os edifícios, havia se sentido a Dona do Universo. Um universo só seu, onde não era percebida, onde podia fazer coisas que não exigiam explicações, onde se sentia parte daquele espaço vazio, límpido e infinito!
Mas agora... Agora tinha visto outras pessoas, e seu universo novamente necessitava de explicações.
Se há algum tempo, quando esse sonho havia começado, Lali tinha feito força para não acordar, nesse instante, fazia o contrário. De alguma forma, tinha consciência de que fazia parte de um sonho, mas agora pretendia acordar e apenas lembrar das sensações maravilhosas experimentadas antes de se deparar com aquelas formas inusitadas.
O medo do desconhecido lhe fazia querer despertar, porém, estava tomada de uma imensa curiosidade.
Um outro ponto mostrado por Peter se fazia entender naquele instante: ela queria acordar, mas também queria saber quem eram as pessoas que via.
Mais uma vez as explicações dele faziam sentido, quando ele dizia que ela não conseguia o que às vezes queria, porque não QUERIA totalmente. Para fazer acontecer, o QUERER tinha que ser completo e não restar nenhum resquício de dualidade em sua vontade.
Experimentava essa indecisão nesse momento.
Da mesma forma que queria acordar, queria ver quem eram aquelas pessoas.
Dentre os dois, prevaleceu a curiosidade.
Foi-se aproximando mais delas e pôde perceber que elas não faziam nenhum movimento no sentido de se afastar ou de perceber a sua presença. Ela os via nitidamente, apesar daquela forma astral em que se encontravam.
Mantendo uma certa distância, por não saber se eles apenas a ignoravam ou se realmente não a percebiam, Lali pôde observar que eram três e pareciam conversar entre si. Não havia nenhum movimento tipicamente humano, como balbuciar ou gesticular, mas ela sabia que estavam conversando. Um se encontrava a quase um metro de distância do outro, mas era como se estivessem a centímetros.
"A comunicação entre eles seria telepática?"
Lali não conseguia ouvi-la, e seu pouco conhecimento lhe avisou que era devido à distância a que ela se encontrava , ou por falta de concentração.
Aproximou-se mais ainda e notou que não faziam nenhum sinal de perceber sua presença.
Com a curiosidade cada vez mais aguçada, Lali pairou no ar, deixando-se flutuar lentamente ao sabor do ar frio da noite.
Encontrava-se agora bem do lado de um deles e pôde ver e ouvir algumas palavras soltas, como se fosses sussurradas em seu ouvido ou plantadas dentro de seu cérebro.
"...irmãs"... "irmão"... "deste lado"... "aqui"...
Sussurros, risos, gargalhadas sem som.
Lali tentou concentrar-se melhor, mas não conseguia entender as palavras. Algumas chegavam soltas, como que trazidas pelo vento, outras chegavam até ela com maior facilidade, mas não conseguia distingui-las, e quando conseguia ouvir, pareciam ser de uma língua estrangeira.
Chegou à conclusão de que não estava sendo ignorada. Eles não a viam mesmo!
Certa dessa conclusão, Lali passou a examiná-los com mais calma, sem medo.
De longe, todas as formas lhe lembravam formas masculinas, mas agora que estava mais perto, duas delas lhe pareciam nitidamente femininas. Se não estivesse enganada, os sons que ouviu eram de risos femininos, e suas formas ganhavam uma suavidade que as que lhe pareciam masculinas não possuíam. Eram diferentes das femininas e da dela própria.
Ainda de longe ela percebera suas presenças pela luz que deles emanava.
Diferente da sua própria luz, a deles irradiava tonalidades diversas. A dela era uma luz clara e suave. A deles faiscava, ora emitindo uma cor, ora outra.
As "partículas de poeira" que os formavam eram de colaborações diferentes a cada ângulo que Lali os olhava, era como se admirasse um cristal sob a luz do sol.
Indo o mais próximo que a sua curiosidade lhe permitia ir, Lali olhou maravilhada para aqueles seres fantásticos.
Um deles (que acreditou ser o masculino) quase ofuscava os outros com o seu brilho intenso.
Agora que o via bem de perto, notou que sua forma ganhava um tom alaranjado e vermelho e, de vez em quando, misturava-se a um tom azulado, dando-lhe cada vez mais a nítida impressão de estar próxima de um fogo. Mas não havia calor. Era uma espécie de "fogo" que tremulava ao vento sem produzir chamar ou calor. A beleza daquelas chamas em formas etérea deixou Lali sem fôlego de tão extasiada!
Finalmente, desviando a atenção do ser fantástico recém-descoberto, Lali passou a observar os outros (ou "as outras")
CONTINUA
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