15º Capitulo
Lali encontrava-se imóvel em frente ao computador, saboreando seu episódio com a poderosa Esperança Bauer. Sorrindo, lembra-se de como a megera passara a dirigir-se a ela de uma outra forma, por assim dizer, mais cautelosa....
Não mais riscava seus trabalhos por puro capricho e passara a ensinar-lhe os trabalhos sem a prepotência costumeira. Daquele dia em diante, Lali detectou um novo sentimento partindo dela: respeito.
E com isso, descobriram-se grandes amigas. Revestida de uma nova personalidade, Esperança se apresentava mais solícita, mais próxima dela. Como se, de repente, tivesse descoberto que Lali não era o "serzinho insignificante" que ela pensava que fosse...
E Lali também descobrira muito mais do que imaginava... Voltando à realidade, Lali viu que relegara seu amigo vampiro ao segundo plano. A luz da tela do monitor refletia em sua roupa, causando um efeito "luz de boate" em seu peito.
Por um momento Lali imaginou que o vampiro tivesse ido embora, provavelmente cansado de esperar por uma mensagem sua, mas o que ela leu deixou-a ainda mais confusa:
Vampiro diz: E então, Lali? O que me diz depois das suas lembranças?
Travando uma luta interior, Lali decidiu dar-se por vencida.
Solitária diz: Ok, Vampiro. Não vou ser hipócrita e lhe dizer que as suas sugestões não me trouxeram lembrança, nem vou me dar ao trabalho de perguntar como é que você sabe disso. Confesso que me fez refletir sobre a possibilidade de os seres humanos serem mais do que imaginam, mas isso não os eleva a nenhum nível de paranormalidade ou seres diferentes, especiais ou sei lá que nome quer dar. Pelo que me consta, esses sentimentos são comuns nas pessoas e, geralmente, chamados de coincidência, sexto sentido, instinto, intuição, premonição ou algo parecido. Por que você diz que não são todas as pessoas que possuem esses, como direi.... DONS?
Vampiro diz: Não se subestime, Lali. Sei que seu raciocínio é rápido o suficiente para você mesma tirar suas conclusões, mas como prometi lhe dar uns empurrõezinhos, aí via: o que torna essas pessoas... hum... especiais, diferentes, é a capacidade de controlar esses dons.
Solitária diz: Controlar? Você quer dizer que assim como posso controlar minha visão abrindo e fechando os olhos, ou contar num momento que quero, eu posso controlar a vontade de... de...
Vampiro diz: Isso mesmo! Vá em frente! Continue usando seus instintos!
Solitária diz: ...a vontade de QUERER??? Ah! Poupe-me Peter!
Vampiro diz: Vamos lá, princesinha... Vamos lá, não desista! Você QUER acreditar, por que luta? Não desista agora, por favor...
Suas últimas palavras pareciam diferentes. Havia súplica nelas...
Lali inalou profundamente um ar que teimava em abandonar seus pulmões .
A ansiedade bloqueava sua respiração. Um misto de arrependimento e curiosidade digladiava-se dentro dela. Há poucos instantes havia decidido baixar a guarda, mas o pirronismo era mais forte que a sua vontade. Insistia em resistir àquela insanidade. Forçou-se a ir de encontro a essa vontade e se expôs para ele.
Não sabe ao certo se foi o seu tom de súplica que a fez enfraquecer.
Solitária diz: Então, você quer dizer que os seres humanos possuem algumas espécies de dons que os fazem mais do que simples mortais esperando pelo seu destino implacável? Deixe-me ver se entendi: vou supor, eu disse SUPOR, que tenhamos algo mais que simples instrumento de sobrevivência. Suponhamos que, ao deixarmos de crer que tudo é obra do acaso, mera coincidência ou coisa parecida e acreditarmos que, em algum determinado momento, as coisas simplesmente "obedecerão" ao nosso comando, as coisas assim o serão? É isso que quer dizer?
Vampiro diz: Quase isso, doce menina, quase isso... Veja bem: é mais simples do que imagina; quando os humanos desejam uma pequena coisa, mas desejam muito, por assim dizer, "torcem" para que aquilo aconteça (alguns cruzam os dedos, outros se põem a rezar, a fazer promessas), na verdade, o que estão fazendo nada mais é do que "acionar" um ponto dentro de si que torna concreto o que desejam. Liberam energia suficiente para tal. Alguns (infelizmente a maioria) faziam isso quando crianças, quando ainda acreditavam em si mesmos. E seus sentidos fluíam naturalmente. Mas com o passar dos anos, com a realidade do dia-a-dia sendo cruel com eles, com as pesquisas científicas que qualificam que o que é real tem que ser palpável, esses sentimentos ficaram adormecidos. Alguns superficialmente adormecidos, outros profundamente. De vez em quando, só quando estritamente necessário (na maioria dos casos, num momento de doença, ou quando se vêm sem saída), essa energia vem à superfície e entra em ação. Dái, mesmo que desconfiem que foram os responsáveis, eles correm urgentemente em classificar como coincidência ou sorte de principiante, para simplismente não deixarem de ser... HUMANOS! Têm medo de serem diferente ou considerados anormais. Têm medo de serem enfiados numa camisa-de-força e serem jogados num hospício onde um psiquiatra (um profissional que provavelmente, sepultou bem sepultado os seus dons) lhes convencerá de que é um humano normal, com todos os CINCO sentidos no lugar.
Solitária diz: Então se todos ousassem e tivessem consciência disso seriam TODOS especiais, não? Quero dizer, você insinuou que uns eram diferentes dos outros e o que os diferenciava era a capacidade de controlar esses dons. Então, se todos aprendessem a controlar, todos seriam iguais, não é?
Vampiro diz: Mais ou menos, Lali. Vou dar um exemplo: você deve conhecer pessoas que têm uma vela voz e sabem cantar muito bem, não conhece?
Solitária diz: Sim. Conheço vários.
Vampiro diz: Mas isso significa que, por ouvir algum deles cantar e por saber que a bela voz vem das suas cordas vocais, todos passem a cantar bem, igual a ele?
Solitária diz: Não e creio que já estou entendendo onde você quer chegar...
segunda-feira, 9 de maio de 2011
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