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sexta-feira, 29 de abril de 2011

12º Capitulo de O Vampiro da Internet

Como sabia disso, era um problema para o seu tão prático lado racional resolver. Nesse momento, Lali só queria continuar sentindo aquilo tudo. Era, acima de tudo, muito bom!
Naquele vazio, naquela escuridão, a unica certeza era a de que ele estava ali.
"Viu-se" no ar. Não estava mais na cadeira, mas sentia ainda seu corpo com os pêlos eriçados. E nessa lembrança do seu corpo, inconscientemente, abriu os olhos.
A mágica se desfez e ela estava novamente diante do micro. Já não se sentia diferente, mas pôde sentir que seus cabelos voltavam lentamente, à posição normal. Estava um pouco zonza. Parecia estar saindo de um longo sonho. Experimentou a sensação de peso e cansaço nos ombros. Baixara os braços e agora eles pareciam pesar uma tonelada.
Tudo isso não passou durante mais que uma fração de segundos, mas, para ela, era como se tivesse cochilado e perdido algumas horas.
Piscou várias vezes, e a zonzeira da cabeça foi passando devagarzinho.

(Lali) O que foi isso?

Lali não encontrou resposta, mas a raiva, a frustração e o ressentimento haviam desaparecido. Em seu lugar, sentia uma paz enorme. Aquela paz que a endorfina nos dá depois de experimentarmos um grande susto ou passarmos por uma experiência dolorosa.
Ela riu baixinho, nervosamente. Agora se sentia boba por ter ficado com raiva dele e de toda a situação. Sentia-se uma garotinha mimada que havia descoberto que o seu brinquedinho não estava no lugar.
Censurava-se e sem olhar para a tela do computador, ria, balançando a cabeça baixa. Respirou fundo, levantou a cabeça e sua mão foi em direção ao mouse para desligar o computador, conformada com a ausência dele, ainda com um sorriso no rosto, pensando na sua loucura momentânea.
Foi aí que ela viu o que estava escrito na tela, e o seu sorriso foi murchando... Franziu a testa na intenção de enxergar melhor. Ainda estava sonhando?
Não... Ele estava lá. Na sala de bate-papo. Seu nick piscava na tela e a pergunta que vinha ao lado dele é que fazia Lali duvidar se estava realmente acordada:

Vampiro diz: Me chamou menina?

Ficou séria imediatamente e seu cérebro começou a pensar em milhões de palavras por segundo. Não conseguia coordenar uma frase sequer. Pensou em recorrer às anotações em que listara as perguntas, mas agora tudo lhe parecia bobagem. Resolveu improvisar.
Procurou acalmar-se, quando notou que recorria ao velho hábito de estalar os dedos quando estava numa situação inexplicável. Lentamente, as letras do teclado tomaram forma em sua frente e ela digitou:

Solitária diz: Lhe chamei?

Perguntou cautelosa, já que a pergunta dele tinha um duplo sentido: ele tanto poderia estar se referindo à loucura que lhe acabara de acontecer, como poderia simplesmente estar perguntando se ela o estava chamando para entrar na sala de conversas.

Vampiro diz: Sempre respondendo as minhas perguntas com uma outra pergunta, não, Lali? Que diferença faz a resposta? Quer falar comigo ou não?
Solitária diz: Sim, quero. Não combinamos de nos falarmos hoje? Entrei e você não estava. Já ia embora...
Vampiro diz: Não, você não desistiria assim tão facilmente. Nós sabemos que você acharia um jeito de falar comigo, não é, Lali?

Aquela forma de falar com ela, como se ela tivesse que saber a resposta para tudo o que ele insinuava, já a estava irritando. Deixava-a em dúvidas se deveria lhe pergunta "O que você quer dizer com lhe achar de outro jeito?", mas conteve-se, receosa de ele rir dela. Afinal, estaria novamente respondendo sua pergunta com uma outra.

(Lali) É claro que ele sabe que eu não tenho respostas para essas afirmações tolas e está tentando fazer com que eu entre em seu jogo!

Não iria lhe fazer nenhuma pergunta desse tipo. Pelo menos, não nesse momento. Finalmente perguntou-lhe:

Solitária diz: Como vamos conversar hoje?
Vampiro diz: Creio que não poderemos conversar como eu havia imaginado anteriormente. Resolvi, então, aceitar que você não se encontra em seu estado normal, portanto, acharemos um meio de conversar que satisfaça a ambos. Só espero que não me venha com questões obvias e banais como as que tenho encontrado na Internet ultimamente. Sei que terei que ter paciência com você, até porque preciso da sua ajuda, mas também será um desafio, pois não sei em que grau de humanidade você se encontra.

Lali leu a sua resposta algumas vezes para tentar assimilar até que ponto aquilo era insano.

(Lali) O que ele insistia em sugerir? Que eu não sou humana, é isso? Que idiotice! Com qual tipo de idiota esse imbecil pensa que está lidando?

Sentiu-se decepcionada logo no início da conversa. A coisa não estava saindo como ela havia pensado. Achou que se ele conversaria num certo nível de normalidade, "Mas o cara era pirado, droga!".
Já não tinha vontade de prosseguir com aquela conversa. Meio a contragosto, decidiu continuá-la, ignorando suas insanidades. Talvez não fosse tão ruim assim e o máximo que poderia acontecer era ela nunca mais entrar em contato com ele.
Agora parabenizava-se por não ter um acesso maior a ele.

(Lali) Como a gente muda rápido de opinião! [disse ela, antes de digitar]

Solitária diz: Ok, Peter. Já conversamos sobre aquele episódio do beijo e você mencionou, em nossa última conversa, que possuímos uma espécie de essência, de energia, ou algo desse tipo.
Vampiro diz: Isso mesmo.
Solitária diz: Minha pergunta é: Todas as pessoas têm isso? Todos são assim?
Vampiro diz: Na realidade, as pessoas não têm isso, pois isso não é como possuir um objeto. É algo mais parecido com um "novo" sentido. E respondendo sua pergunta mais amplamente, não; não são todas as pessoas que "têm" isso.
Solitária diz: Certo, acho que entendi: é como se fosse uma espécie de "sexto sentido"? É isso?
Vampiro diz: Sexto sentido... Sexto sentido... Vocês adoram essa expressão, não? Sexto, sétimos, oitavo, que diferença faz?
Solitária diz: Faz diferença sim. Afinal, não temos cinco sentidos?
Vampiro diz: Temos? Tem certeza? Só cinco sentidos?

CONTINUA

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